10 de fevereiro de 2012

COMENTÀRIO do conto O Edifício, de Murilo Rubião.


Narrativa metapoética que pode ser lida como uma alegoria do ato criador. 

Os recursos murilianos para a instauração do fantástico nesse conto são, basicamente, três: 

1) Ruptura do princípio de causalidade, ou seja: ocorrem “causas” que não produzem o efeito esperado (resultando na imprevisibilidade). 

Apresenta-se uma causa suficiente para produzir determinado efeito. Este, contudo, não apenas é omitido do encadeamento narrativo, como é substituído por outro que lhe é diametralmente oposto. Isto resulta em uma situação de imprevizibilidade, como observa-se nesse conto, no qual o engenheiro –chefe tenta inutilmente convencer os operários da conveniência de paralizarem os trabalhos de construção. O seu discurso que, de início, revela-se apenas ineficaz, termina por produzir um efeito exatamente contrário ao que ele pretendia. 

2) A redundância ou reiteração. Esse recurso aparece com vigor nesse conto. A redundância ou reiteração de uma situação idêntica, “ad infinitum”, confere unidade à ação. 

3) Hiperbolização. Este recurso se manifesta na construção ilimitada de um prédio que, na verdade, não tem finalidade prática, como seria de esperar. 

Nelly Novaes Coelho chama a atenção para a fatalidade que arrasta as personagens murilianas para as dores do mundo, tal como ocorre em muitas passagens do Antigo Testamento. 

Essa condenação pertence, por exemplo, o desespero agônico do personagem em O Edifício, frente ao imperativo de um fazer eterno, verdadeira alegoria da torre de Babel nos nossos tempos: um insensato trabalho de construção. Sem nenhum sentido, mas condenado a se prolongar por um tempo indeterminado.



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