26 de agosto de 2012

Comentário do conto "O Edifício", de M. Rubião.


A situação que se observa em “O edifício” é de imprevisibilidade, posto que as causas propostas não produzem o efeito esperado, para desespero do engenheiro João Gaspar, contratado na juventude para terminar um edifício de ilimitados pavimentos. Este se vê no fim da vida impotente diante do projeto absurdo que insiste em se concretizar, apesar dos seus apelos para que paralisassem os trabalhos de construção. O seu discurso, que de início revelava-se apenas ineficaz, termina por produzir um efeito exatamente contrário ao que ele pretendia:
“Fazia longos discursos e, muitas vezes, caía desfalecido de tanto falar. A princípio, os empregados se desculpavam, constrangidos por não ouvirem atentamente as suas palavras. Com o passar dos anos, habituaram-se a elas e as consideravam peça importante nas recomendações recebidas pelo engenheiro-chefe antes da dissolução do Conselho. Não raro, entusiasmados com a beleza das imagens do orador, pediam-lhe que as repetisse. João Gaspar se enfurecia, desmandava-se em violentos insultos. Mas estes vinham vazados em tão bom estilo, que ninguém se irritava. E, risonhos, os obreiros retornavam ao serviço, enquanto o edifício continuava a ganhar altura."
Temos uma causa que não funciona como princípio que suscite o efeito produzindo-se. O vazio que se abre com essa infração do princípio de causalidade já não permite determinar com precisão o encadeamento lógico dos fatos, porquanto o efeito já não resulta da eficiência da causa, mas sim como inversão radical e arbitrária da relação de causalidade, como um lance gratuito do imaginário.
Desprovido do poder e perdido num projeto que constatou ser de fato impossível, o engenheiro aos poucos se resignou a observar, com desânimo, a força invencível do prédio que teimava em subir. Mesmo as suas medidas intransigentes para interromper o trabalho, como a demissão de todos os funcionários, não impediram que eles continuassem o dever imposto por autoridades inimagináveis, trabalhando, por fim, “à noite e aos domingos, independente de qualquer pagamento adicional."
O conto se organiza como uma metáfora da lenda bíblica da Torre de Babel cuja construção teria terminado em consequência da enorme confusão gerada pela dificuldade de comunicação entre os trabalhadores que passaram a falar idiomas diferentes por terem desafiado a Lei do Senhor ao pretenderem construir uma torre que os levasse até o céu.  

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