16 de outubro de 2011

O Fantástico Literário


No fantástico literário podemos de distinguir três propostas estéticas:

1) a do Fantástico Tradicional;
2.) a do fantástico neomitológico;
3.) a do Realismo Mágico.

O FANTÁSTICO TRADICIONAL, proveniente da Europa, é teoricamente bem definido e estudado por vários autores europeus, dentre os quais se distingue Tzvetan Todorov.[1] Segundo esse autor, o fantástico se instaura quando a realidade cotidiana é invadida pelo elemento sobrenatural, podendo ainda ser propiciado por alucinações, delírios, pesadelos, loucura ou por manifestações que não podem ser explicadas pela ciência ou pela razão humana das personagens.
Roger Callois aponta várias classes temáticas recorrentes no fantástico tradicional: “o pacto com o demônio; a alma penada que exige para seu repouso que uma certa ação seja realizada; o espectro condenado a caminhar eterno e desordenado; a morte personificada, aparecendo no meio dos vivos; a “coisa” indefinível e invisível, mas que pesa, que está presente; os vampiros; a maldição de um feiticeiro que provoca uma doença espantosa e sobrenatural; a mulher-fantasma vinda do além, sedutora e mortal, etc.”[2]

NO FANTÁSTICO NEOMITOLÓGICO, segundo as informações de Fábio Lucas Pierini, é originário dos Estados Unidos, os autores introduzem em suas narrativas uma série de criaturas inumanas aparentemente desvinculadas dos mitos etno-culturais-religiosos e outros seres lendários já existentes. Essa vertente do fantástico resultou de um esforço conjunto dos autores americanos do norte em construir uma literatura que viesse a ser completamente desvinculada da européia. Não possuindo um passado nacional de onde retirar seus mitos, lendas e outras crenças e, recusando a influência da cultura indígena nativa, bem como a dos povos africanos escravizados, viram-se forçados a criar uma nova mitologia, quando na verdade estavam apenas dando nova roupagem ao que tinham como referências. [3]

O REALISMO MÁGICO, surgido, em 1925, com esse nome no âmbito das artes plásticas, entre pintores do pós-expressionismo alemão. A intenção deles era revelar os objetos cotidianos sob uma nova perspectiva., o termo passou a ser aplicado à toda manifestação literária fantástica oriunda da América Latina.
Segundo Irlemar Chiampi, o realismo mágico tornou-se “um achado crítico-interpretativo, que cobria, de um golpe, a complexidade temática (que era realista de um outro modo) do novo romance e a necessidade de explicar a passagem da estética realista-naturalista para a nova visão (mágica) da realidade”.[4] Contudo, a autora recusa a expressão “realismo Mágico”, de uso corrente na crítica hispano-americana, preferindo substituí-lo pela expressão “realismo maravilhoso”, no seu entender mais adequado à realidade latino-americana.[5]
As narrativas de Murilo Rubião não podem ser compreendidas a partir dos modelos narrativos e das teorias do fantástico tradicional, do mesmo modo que não lhe servem as teorias que orientam a leitura do fantástico neomitológico e do realismo mágico (ou do realismo maravilhoso).
Como acontece com a obra de F. Kafka, a obra muriliana insere-se em uma outra variante do fantástico que se enquadra nos modelos antes referidos. Como bem observa Audemaro Taranto Goulart, “basta abrir qualquer livro de Murilo Rubião para perceber-se, às primeiras cenas, que se transita no terreno do absurdo”.[6]
O elemento fantástico nos contos de Murilo Rubião dilui as relações tradicionais do texto com o receptor, integrando o leitor dentro de um universo alicerçado num absurdo verossímil. A ausência de perplexidade, a anulação do espanto, frente ao fato insólito, sobrenatural ou absurdo faz com que a narrativa muriliana afirme-se em sua modernidade.

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Notas

[1] Tzvetan Todorov, Introdução à literatura fantástica, S. Paulo: perspectiva, 1975.
[2] Roger Callois, citado por T. Todorov, Op. Cit., p. 109.[3] Fábio Lucas Pierini, Infantil e adulto: dois fantásticos em José J. Veiga
[5](http://www.literaturafantastica.hpg.ig.com.br/)
[4] Irlamir Chiampi.O realismo maravilhoso, S. Paulo: Perspectiva, 1980, p. 19.
[5] Irlemir Chiampi explica a sua opção pela expressão realismo maravilhoso Poe ser esse termo já consagrado pela Poética e pelos estudos crítico-literários em geral, e se presta à relação estrutural com outros tipos de discurso (o fantástico, o realista). O termo “mágico”, ao contrário, é tomado de outra série cultural e acoplá-lo a realismo implicaria ora uma teorização de ordem fenomenológica (a atitude do narrador), ora de ordem conteudística (a magia como tema). Op. Cit,. P. 23.
[6] Audemro T. Goulart. O contofantástico de Murilo Rubião, p. 25.

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