2 de dezembro de 2011

Comentário do conto Os dragões.

O escritor do fantástico pode fazer uso de vários recursos para a realizar a desconstrução crítica da realidade: seres exóticos, pitorescos ou extravagantes, objetos e situações insólitas, pessoas estranhas que praticam ofícios inusitados, dentre outros. No conto - Os dragões - a convivência pacífica do natural com o sobrenatural assume um caráter de normalidade, não causando espanto no leitor a relação normal que se estabelece entre os dragões e as pessoas da cidade. Assim uma situação insólita se extingue desde o início da narrativa, quando o narrador acusa os habitantes da cidade de não terem habilidade para uma convivência perfeita com os animais, por causa da deficiência cultural dos moradores, que não lhes propiciava os meios para educarem os dragões.
Considerando que o fantástico não é inocente de significados, constituindo-se como uma estratégia critica, a presença dos dragões na sociedade humana ocorre para que esta seja criticada através dos seus elementos. Os dragões cumprem sua função de ativar na pequena comunidade os preconceitos, as intolerâncias e as atitudes irracionais dos seus moradores.
O conto questiona a idéia de que os homens sejam do ponto de vista ontológico, superiores aos animais. A sua intencionalidade crítica visa atingir, também, a questão ética, na medida em que procura demonstrar que a convivência com os homens corrompe os animais, levando-os a assimilar seus vícios e a adotar os seus comportamentos e atitudes equivocados. Assim sendo, a narrativa muriliana desconstrói a idéia arraigada de que uma conduta eticamente positiva seja privilégio dos humanos.
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Zenóbia Collares Moreira

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