No Retiro da Figueira, de Moacyr Scliar, temos um narrador-personagem que narra a malfadada experiência da sua família e de outras famílias que acalentaram o sonho de residirem em um condomínio fechado que tem o mesmo nome do título ao conto.
O medo da violência e a conseqüente insegurança das famílias que vivem nos grandes centros urbanos, encontram a solução na possibilidade de mudarem-se para um condomínio seguro, anunciado através de um prospecto publicitário. Tal prospecto, eivado de sedutoras descrições do espaço atiçou as expectativas de vida tranqüila: imagens de casas sólidas e bonitas, gramados, parques, pôneis, lago, campo de aviação, árvores, pássaros e um sistema de segurança desenvolvido com alta tecnologia. Um verdadeiro paraíso.
Vale salientar que este prospecto é de suma importância, na medida em que foi através dele que as pessoas tomaram conhecimento da existência do Retiro da Figueira e se interessam em ir até o seu endereço para conhecerem as instalações, com vistas a adquirirem, imediatamente, uma residência, pois em poucos dias todas as unidades estariam vendidas. Na chegada ao local, os candidatos a compradores e, em seguida, moradores do imóvel, comprovavam a fidelidade das imagens do prospecto, além de constatarem a gentileza e a solicitude dos guardas.
Instalaram-se na nova residência e, ao longo de mais de um mês, fruíram as maravilhas anunciadas no prospecto. Tudo estava sendo como o prometido. Todavia, a partir deste período de vida paradisíaca, começam as vicissitudes dos moradores do condomínio. A primeira decepção veio com a sirene de alarme disparando a tocar e os condôminos sendo mandados para o salão de festas, destinado para a concentração de todos em caso de emergência, onde durante quatro dias, ficaram confinados.
Ao cabo dos quatro dias, um avião pousou no campo de aviação e dele desceu um homem com uma maleta que entrega aos guardas. Em seguida, eles partem junto com o avião e com o dinheiro pago pelo resgate dos moradores seqüestrados do Retiro da Figueira. Assim, de felizes habitantes de um paraíso, todos passam, arbitrariamente, à condição de vítimas de uma armadilha e reféns, confirmando a desconfiança inicial do narrador. Assim, o que parecia a solução dos problemas vai se tornando o problema maior.
Os indícios que alimentariam, no desfecho, o grande acontecimento insólito gradativamente vão se manifestando: os prospectos foram enviados a pessoas selecionadas, as pessoas eram sempre sorridentes e prestativas. Até que no fim da narrativa as famílias não saem do condomínio, por ordens de segurança. Só então, eles descobrem que caíram numa armadilha, foram seqüestrados e estão presos no Retiro da Figueira que, por ironia da sorte, proporcionou a todos exatamente o que tanto temiam no grande centro urbano em que viviam.
“Nunca mais vimos o chefe e seus homens. Mas estou certo que estão gozando o dinheiro pago pelo nosso resgate. Uma quantia suficiente para construir dez condomínios iguais aos nosso – que eu, diga-se de passagem, sempre achei que era bom demais.
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Zenóbia Collares Moreira Cunha
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