[Valid Atom 1.0] O Fantástico Literário na Web: Comentário do conto No Retiro da Figueira, de Moacyr Scliar

16 de fevereiro de 2012

Comentário do conto No Retiro da Figueira, de Moacyr Scliar


No Retiro da Figueira, de Moacyr Scliar, temos um narrador-personagem que narra a malfadada experiência da sua família e de outras famílias que acalentaram o sonho de residirem em um condomínio fechado que tem o mesmo nome do título ao conto.
O medo da violência e a conseqüente insegurança das famílias que vivem nos grandes centros urbanos, encontram a solução na possibilidade de mudarem-se para um condomínio seguro, anunciado através de um prospecto publicitário. Tal prospecto, eivado de sedutoras descrições do espaço atiçou as expectativas de vida tranqüila: imagens de casas sólidas e bonitas, gramados, parques, pôneis, lago, campo de aviação, árvores, pássaros e um sistema de segurança desenvolvido com alta tecnologia. Um verdadeiro paraíso.
Vale salientar que este prospecto é de suma importância, na medida em que foi através dele que as pessoas tomaram conhecimento da existência do Retiro da Figueira e se interessam em ir até o seu endereço para conhecerem as instalações, com vistas a adquirirem, imediatamente, uma residência, pois em poucos dias todas as unidades estariam vendidas. Na chegada ao local, os candidatos a compradores e, em seguida, moradores do imóvel, comprovavam a fidelidade das imagens do prospecto, além de constatarem a gentileza e a solicitude dos guardas.
Instalaram-se na nova residência e, ao longo de mais de um mês, fruíram as maravilhas anunciadas no prospecto. Tudo estava sendo como o prometido. Todavia, a partir deste período de vida paradisíaca, começam as vicissitudes dos moradores do condomínio. A primeira decepção veio com a sirene de alarme disparando a tocar e os condôminos sendo mandados para o salão de festas, destinado para a concentração de todos em caso de emergência, onde durante quatro dias, ficaram confinados.
Ao cabo dos quatro dias, um avião pousou no campo de aviação e dele desceu um homem com uma maleta que entrega aos guardas. Em seguida, eles partem junto com o avião e com o dinheiro pago pelo resgate dos moradores seqüestrados do Retiro da Figueira. Assim, de felizes habitantes de um paraíso, todos passam, arbitrariamente, à condição de vítimas de uma armadilha e reféns, confirmando a desconfiança inicial do narrador. Assim, o que parecia a solução dos problemas vai se tornando o problema maior.
Os indícios que alimentariam, no desfecho, o grande acontecimento insólito gradativamente vão se manifestando: os prospectos foram enviados a pessoas selecionadas, as pessoas eram sempre sorridentes e prestativas. Até que no fim da narrativa as famílias não saem do condomínio, por ordens de segurança. Só então, eles descobrem que caíram numa armadilha, foram seqüestrados e estão presos no Retiro da Figueira que, por ironia da sorte, proporcionou a todos exatamente o que tanto temiam no grande centro urbano em que viviam.
“Nunca mais vimos o chefe e seus homens. Mas estou certo que estão gozando o dinheiro pago pelo nosso resgate. Uma quantia suficiente para construir dez condomínios iguais aos nosso – que eu, diga-se de passagem, sempre achei que era bom demais.

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Zenóbia Collares Moreira Cunha

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