Eles gostavam dos jardins, dos pássaros, dos cavalos-marinhos, de suas filhas –Três louras Petúnias, enterradas na última primavera: Petúnia Maria, Petúnia Jandira, Petínia Angélica.
Quando dos pequeninos túmulos, colocados à margem da estrada, saíram os minúsculos titeus, nada mais pertencia a Éolo. Cacilda se assenhorara do seu talento, das suas recordações. Proibira-lhe visitar os jazigos das meninas, levar-lhe copos-de-leite, azaléias. Vedou-lhe o jardim, tomou-lhe o binóculo. É que apareceram os timóteos, umas flores alegres, eméritos dançarinos. Divertiam-se as miúdas Petúnias, brincando de roda, ensinando-lhes a dança, despindo-se das pétalas. A sua nudez aborrecia Cacilda. Sem protesto, Éolo aguardava as begônias, naquele ano ausentes.
Longa se tornou a espera e se punha triste por andar sozinho pelo quarto úmido. Impedido de franquear as janelas, que a esposa mandara trancar com pregos, ele imaginava com amargura os lindos bailados dos timóteos, a alegria das louras Petúnias. Por que Petúnia-mãe as julgava mortas, se nada apodrecera?
A primeira Petúnia, Petúnia Maria, filha de Petúnia Joana, levou-o a acreditar que os dias seriam felizes.
-chamo-me Cacilda. Nenhuma delas se chama Petúnia – gritava a mulher. (Cacos de vidro, perdeu-se o amor de encontro à vidraça.)
Por que begônias? Felônia, felonia. Fenelão comeu a pedra – Petúnia Jandira gostava de histórias:
-Papai, quando virão os proteus?
-Não comem gente, são dançarinos, filhinha.
-E os homens?
-Fenelão comeu a pedra. Era lírico o Fenelão.
Éolo não tinha planos de casamento, porém sua mãe pensava de outro modo:
-Sou rica e só tenho você. Não admito que minha fortuna vá para as mãos do Estado. – E, irritada diante dessa possibilidade, alteava a voz:
-Quero que ela fique com os meus netos!
Vendo que não conseguia mudar as convicções do filho, nem seduzido com a visão antecipada de possíveis descendentes, descaía para a pieguice.
-Além do mais, amor, quem cuidará do meu Éolinho?
O diminutivo era o bastante para enfurecê-lo. Saía batendo as portas até seu quarto.
Periodicamente dona Mineides promovia festinhas, enchendo a casa de moças, esperançosa de que o rapaz casasse com uma delas. Às que reuniam, na sua opinião, melhores qualidades para o matrimônio, insinuava, aparentando uma felicidade um tanto fingida: “Alguém terá que substituir-me e cuidar dele com o mesmo carinho”.
As jovens concordaram, felizes por se tornarem cúmplices da velha.
O filho bocejava. Ou se irritava ouvindo os gritinhos histéricos, as perguntas idiotas, a admiração das mocinhas pelo casarão, onde o mau gosto predominava.
Enfastiado, esperava esvaziar-se o recinto, cessasse o alvoroço das inquietas raparigas. Terminada a festa, dona Mineides e os criados já recolhidos aos aposentos, os pássaros invadiam as salas, voavam em torno dos lustres, pousavam nos braços das cadeiras. Não cantavam. Ruflavam de leve as asas, para não despertar os que dormiam, pois jamais permitiam que outras pessoas, além dele, os vissem em seus vôos noturnos.
Estava Éolo, numa tarde, a soltar bolhas de sabão, quando ouviu de longe a mãe berrar:
-Éolo, seu surdo, venha cá!
Relutou em atender ao chamado, tal o seu desagrado pelo tom brusco com que solicitavam a sua presença na sala.
A velha aguardava-o impaciente. Logo que pressentiu seus passos no corredor, avançou em direção do filho, arrastando pelas mãos uma moça que pouco à vontade a acompanhava:
-É ela.
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-Além do mais, amor, quem cuidará do meu Éolinho?
O diminutivo era o bastante para enfurecê-lo. Saía batendo as portas até seu quarto.
Periodicamente dona Mineides promovia festinhas, enchendo a casa de moças, esperançosa de que o rapaz casasse com uma delas. Às que reuniam, na sua opinião, melhores qualidades para o matrimônio, insinuava, aparentando uma felicidade um tanto fingida: “Alguém terá que substituir-me e cuidar dele com o mesmo carinho”.
As jovens concordaram, felizes por se tornarem cúmplices da velha.
O filho bocejava. Ou se irritava ouvindo os gritinhos histéricos, as perguntas idiotas, a admiração das mocinhas pelo casarão, onde o mau gosto predominava.
Enfastiado, esperava esvaziar-se o recinto, cessasse o alvoroço das inquietas raparigas. Terminada a festa, dona Mineides e os criados já recolhidos aos aposentos, os pássaros invadiam as salas, voavam em torno dos lustres, pousavam nos braços das cadeiras. Não cantavam. Ruflavam de leve as asas, para não despertar os que dormiam, pois jamais permitiam que outras pessoas, além dele, os vissem em seus vôos noturnos.
Estava Éolo, numa tarde, a soltar bolhas de sabão, quando ouviu de longe a mãe berrar:
-Éolo, seu surdo, venha cá!
Relutou em atender ao chamado, tal o seu desagrado pelo tom brusco com que solicitavam a sua presença na sala.
A velha aguardava-o impaciente. Logo que pressentiu seus passos no corredor, avançou em direção do filho, arrastando pelas mãos uma moça que pouco à vontade a acompanhava:
-É ela.
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