O conto “Um esqueleto” tem seu tema baseado em um fato real macabro, e “...o tal esqueleto seria o de uma cantora lírica francesa, a bela Eugênia Mege, que ao chegar ao Brasil se apaixonara por um médico de grande clínica da antiga capital do Império, o Dr. Antônio José Peixoto. Assassinada pelo marido ciumento, seu corpo fora depois roubado da sepultura pelo amante, que lhe armara o esqueleto e o colocara, numa vitrina, em seu consultório, como um caçador ardente que colecionasse os seus troféus” .
O louco que protagoniza a narrativa é um insano. Assim, a trama desenrola-se entre peripécias medonhas que devem ter feito correr um calafrio pelas alvas e castas espinhas das leitoras oitocentistas do Jornal das Famílias. O epílogo é, entretanto, abrandado pelo mesmo artifício de outras narrativas: o nefasto personagem Dr. Belém, um doente mental, seria realmente um louco. Se tivesse existido... “Mas o Dr. Belém não existiu nunca - pondera Machado - eu quis apenas fazer apetite para o chá...”. E o autor reduz a narrativa, aterradora até então, aos “cestos de costuras”.
“Um esqueleto” apresenta a realidade, prosaica, em contraponto ao fantasmagórico, arrepiante. Há nestas narrativas alguma influência dos autores fantásticos de seu tempo, como E. T. A. Hoffmann e Edgar Allan Poe, ainda que Machado desfaça os efeitos suscitados pelo insólito com uma brusca retomada da realidade, pondo fim ao efeito fantástico e, consequentemente, projetando a narrativa no âmbito do “estranho”.
Concluindo, nos contos fantásticos machadianos, não há a justificativa/explicação para os “fenômenos” narrados; elas são dissolvidas, quase sempre, pela simples dissolução do efeito fantástico “quase-macabro” ou seja, o horror diluído, desmanchado no final da narrativa, como pode ser visto em “O Esqueleto”.
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